quarta-feira, 29 de abril de 2009

Diz que diz...

Diz-se que o PSD vive agitado.

As últimas semanas do PSD têm trazido a público iniciativas várias, posições novas, tácticas de campanha diferenciadas, divergências estratégicas, anúncios extemporâneos e um diz que disse (ou que não queria dizer) absolutamente frenético.

Mas comecemos pelo início.

Diz-se que Manuela Ferreira Leite assumiu em Comissão Política Nacional Permanente a candidatura de Paulo Rangel às eleições europeias sem consultar os seus próprios pares que, à revelia, diz-se, preparavam a defesa de outro candidato. Diz-se que a lista apresentada agradou a quem tinha de agradar. E diz-se que Rui Rio, primeiro vice-presidente do Partido, não terá gostado da atitude da líder e que terá aproveitado a oportunidade para dela se demarcar.

Dias depois, o PSD apresentou na Assembleia da República dois diplomas que criminalizavam o enriquecimento ilícito, proposta que, diz-se, levaram o Partido a “apanhar o comboio da demagogia no combate à corrupção”. Quem o disse foi Rui Rio, em nova, consecutiva e cada vez mais aguerrida divergência com a líder, Manuela Ferreira Leite. Diz-se que esta posição confirma a suspeita de demarcação de Rui Rio face a uma direcção que até há uma semana apoiou e suportou.

Há quem diga que se trata de traição e conspiração. E há quem diga que se trata de estratégia concertada entre os dois desde o princípio (há muito se dizia que a certa altura a líder estrategicamente “adoeceria” e daria o seu lugar a quem o tinha prometido). Há quem fale em “Golpe de Estado” - diz-se que Rui Rio antecipa um mau resultado nas europeias para, imediatamente a seguir, assumir a liderança do Partido, sem ir a eleições internas, que teria medo de perder – pelo menos assim se diz.

No meio da confusão, diz-se, as concelhias do Porto do PSD e do CDS apresentaram a recandidatura de Rui Rio à Câmara Municipal do Porto. Diz-se que para desviar atenções nacionais. Diz-se que para segurar Rui Rio. Diz-se que para baralhar e voltar a dar. Rui Rio, o candidato apresentado, não esteve presente na sua apresentação - estranhamente, diz-se. À margem de uma reunião da Área Metropolitana, Rui Rio comentou a sua recandidatura (de fácil eleição, diz-se), sem nunca confirmar nem desmentir se cumpre o novo mandato até ao fim, ou se admite abandonar o Porto a meio do mandato autárquico face a desafios nacionais. A concelhia do PSD apressou-se a dizer que Rui Rio disse, ou pelo menos queria dizer, o que não disse. Diz-se que talvez o que a concelhia deveria ter dito é que Rui Rio não disse o que “ela” queria que ele dissesse…

Pelo meio, Belmiro de Azevedo, homenageado pela Câmara do Porto com a Medalha de Ouro da Cidade, disse na cerimónia de homenagem o que (quase) ninguém se atreveria a dizer, pelo menos, naquele tempo e espaço. “Gostaria de ver Santa Catarina, a Ribeira, a Sé, Vitória e São Nicolau a competir sadiamente com a margem esquerda do Douro…”. Diz-se que foi inoportuno ou até indecoroso...

Por fim, a entrevista de Mário Crespo a Manuela Ferreira Leite. Diz-se que das cinco entrevistas dadas por Manuela Ferreira Leite à televisão desde que foi eleita Presidente do PSD, esta foi a menos vista. E diz-se que ainda bem. Manuela Ferreira Leite, entre tanta coisa que disse e que não devia ter dito (até o chamamento ao seu papel de avó a prejudicou, diz-se), confrontada com a pergunta directa e clara de Mário Crespo, se se sentiria mais confortável em fazer uma coligação de governo AD (com o CDS) ou de governo central (com o PS), disse "Eu sentir-me-ia confortável com qualquer solução em que eu acredite (…) que a conjugação de esforços e, especialmente, a conjugação de interesses no sentido do País são coincidentes.” Diz-se que Manuela Ferreira Leite disse o que queria fazer mas não o que queria, nem podia, dizer. Manuela Ferreira Leite disse depois que simplesmente não disse o que disse. E que quem dissesse que o tinha dito, simplesmente abusava na interpretação.

Com tanta trapalhada, diz-se que o PSD “não vai lá”.
E eu subscrevo.

Luis Proença

3 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ler este texto, digamos que prima por um jogo de palavras e com "acontecimentos" desligados. Pode criar dúvidas a quem possa andar mais distraído.
Para os mais atentos concluiu-se que "O Porto Laranja" é contra a candidatura do Dr. Rui Rio.

Pedro Ribeiro

Anónimo disse...

Caro Pedro Ribeiro,

Isso é mais um disse que disse...
Interpretação abusiva a sua, sem dúvida.

Carlos Pereira

Bia disse...

Eu digo:

O Senhor sabe que eu sei, aquilo que sabemos que sei...

;)