«Quando eu andava na escola secundária, havia uma cambada de intrusos que teimavam em baixar a fasquia. Não se interessavam por nada. Arrastavam-se pela escola, a atrasar o início das aulas, a minar-lhes o meio e a antecipar-lhes o fim. Era a pandilha dos deixa andar. Gente que a minha mãe garantia não poder chagar a lado nenhum, mas que parece ter-se multiplicado e espalhado por todo o lado.
A minha mãe não sabia que aquela Catarina haveria de arranjar emprego no Instituto Público onde a tia trabalha. Não desconfiava que o Alexandre-não-te-rales haveria de encontrar um lugarzinho na empresa onde trabalha o irmão da namorada. Mas provavelmente já temia que não se livrassem daquela queda para o medíocre que a escola tão bem lhes soube conservar.
Alexandre e Catarina aderiram há muito a esta moda do medíocre. Sabiam, quase tão bem quanto os miúdos que hoje andam na escola, que aqui os esforçados são só gente que chega ao mesmo sitio que eles, mas mais cansada. E levaram a lição para fora dos muros da escola, a tornar ineficazes os organismos públicos, as empresas privadas, a sociedade em geral.
A praga espalhou-se. Foi ganhando adeptos entre os que tinham vocação natural para a coisa e os que simplesmente se aperceberam da inutilidade de qualquer esforço. Pegou de tal forma que já não basta ser-se medíocre. Há também que se gostar de o ser e “dizê-lo cantando a toda a gente”.
Hoje em dia, ser-se bom em Portugal é uma chatice. Destoa, cai mal. As provas estão por todo o lado. A minha preferida chama-se Vanessa Fernandes. Quando uma atleta acabadinha de ganhar uma medalha olímpica — no meio do deserto que foi a participação portuguesa — tem de pedir desculpa por ter puxado as orelhas a quem não se esforçou o suficiente, alguma coisa está mal. O mesmo episódio ridículo repete-se todos os dias em muitas escolas e empresas portuguesas.>>
Cláudia Nunes
In jornal «O Metro», Março 2009
Pensei em escrever um artigo de opinião, mas penso que seria difícil transmitir tão bem o que sinto. Assim aproveito este artigo para deixar a seguinte reflexão:
Talvez a jornalista esteja a generalizar um pouco, mas a realidade é que a maioria de nós já pensou e se perguntou se não será assim que acontece! Será que quem não se esforça e é medíocre é recompensado por isso nesta sociedade?!
Será que esta praga também se espalhou pelo nosso PSD? E no Porto?
Como diria o locutor da RFM “ Vale a Pena Pensar Nisto”
1 comentário:
A mediocridade, às vezes, vê-se pelas perguntas e não pelas respostas."Vale a pena pensar nisto".
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