quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


Intervenção do Prof. Doutor Pedro Arroja, no debate :
"A crise financeira e os efeitos na economia real" e "O estado da economia em Portugal"



O Prof. Doutor Pedro Arroja dividiu a sua intervenção em 3 partes: As origens da crise financeira, o seu impacto no presente e os efeitos futuros na economia, na sociedade e na política.

Numa perspectiva histórica, começou por se referir aos meados do século XX, para lembrar que o único país, interveniente directo, que saiu da 2ª Grande Guerra sem prejuízos internos foi os Estados Unidos da América. Desta forma, a economia americana permitiu-se financiar a reconstrução europeia no período pós guerra, através da emissão de moeda (USD) que estava em ultima instância baseada no ouro (Sistema de Bretton Woods).

O período de prosperidade da economia americana viria, contudo, mais tarde, a esbarrar numa circunstância óbvia: as reservas de ouro não eram infinitas. Assim, na necessidade de continuar a crescer a economia, os Estados Unidos da América passaram a emitir moeda a troco de títulos da divida pública, neste caso, sem qualquer substrato de riqueza. “O dinheiro passava a ser emitido a partir do ar!...”. Estavam lançadas as bases da transição para um sistema monetário de emissão praticamente livre.

Contextualizou depois o negócio da banca comercial, cujos resultados operacionais resultam da diferença entre os juros recebidos pelos créditos concedidos e os juros pagos pelos depósitos dos clientes. Frisou os argumentos poderosos dos banqueiros que levam as entidades reguladoras a diminuir as taxas obrigatórias das reservas, dai resultando o facilitismo com que a banca comercial começou a tratar a concessão de crédito tendo levado, no extremo, à crise do “subprime”, o mercado de crédito hipotecário de alto risco, que está na base da actual crise financeira. “Os maus investimentos realizados pelos bancos justificam o seu estado de falência”, referiu.

Lembrou as recentes e diferentes intervenções do Estado Americano sobre o sistema financeiro tendo, por um lado, “permitido” a falência do Lehman Brothers e, por outro, nacionalizado total ou parcialmente vários bancos. Na Europa, sublinhou, como caso extremo a crise da Islândia, a economia mais desenvolvida do mundo, para se referir à intervenção do Fundo Monetário Internacional. Salientou a existência e a dimensão de um plano de salvamento financeiro para a França e Alemanha.

No plano nacional, julga que “todos os bancos acabarão por cair nas mãos do Estado. “O problema, referiu, é que “o Estado português, endividado, não tem os vinte mil milhões de euros necessários que anunciou para apoiar os bancos. Esta situação obrigaria a mais endividamento externo. Mas quem emprestaria?”, questionou.

No plano económico e social, o Prof. Dr. Pedro Arroja prevê com pessimismo o futuro próximo. “A falta de dinheiro em circulação, associada à débil economia portuguesa dos últimos tempos, preconiza um cenário de deflação”, caracterizado pela diminuição dos preços de bens e serviços. “Vem aí a deflação e o problema é que desconhecemos os seus efeitos na sociedade contemporânea”.

Em Portugal, lembrou, “os nossos avós assistiram a um período de deflação, de 1925 até à 2ª Guerra Mundial”. Se fizermos o paralelo com esse período, então prevemos a queda das bolsas até 80%, a queda gradual das taxas de juro, a queda dos preços dos bens e serviços entre 20% e 30%, obrigando a diminuição dos custos das empresas através do aumento do desemprego como forma de evitarem (ou adiarem) as falências, surto grande de emigração para mercados emergentes como Angola e Brasil, perturbações sociais e a redução do Estado Social. Acredita, “com 60% de certeza, que, dentro de 2 a 3 anos, Portugal sairá do Euro devido ao défice da balança de transacções correntes”.

Acompanham-no nesta saída da moeda única a Itália, a Grécia e a Espanha, conforme artigo do Financial Times que apelida estes 4 países de PIGS (referência maliciosa às suas iniciais)”.

A propósito dos “grandes” investimentos públicos, preconizados pelo governo, refere que sob os efeitos da crise económica e financeira, e a consequente falta de dinheiro, obras como o novo aeroporto de Lisboa e TGV, não irão ser concretizadas nos próximos anos.

No plano político, estas circunstâncias económicas e sociais normalmente originam um abalo da democracia e propiciam o surgimento de regimes autoritários. Segundo o Prof. Dr. Pedro Arroja, “a democracia não está isenta de responsabilidades pela actual crise”.

“Os governantes, populistas, incentivam ao crédito fácil, para que todos vivam bem.” Entende que a crise económica vai desgastar muito o governo durante o próximo ano. Os eleitores têm tendência a atribuir a culpa aos governos quando a situação económica é má.
Prevê assim, que o PSD vai retirar a maioria absoluta ao PS e muito provavelmente vai ganhar as próximas eleições legislativas, mesmo que a Dra. Manuela Ferreira Leite, “não abra a boca”, refere. Apesar de independente, reconhece que “O PSD é o partido político mais aberto do nosso espectro político, onde todos cabem e através do qual todos são representados”. Mas julga que “vamos ter turbulência política se o próximo governo não for de maioria absoluta”. Recordou a revolta da população contra os partidos políticos em 1926 e prevê que um cenário idêntico possa ocorrer nos tempos mais próximos. “O futuro reserva-nos uma democracia mais musculada e, logo, menos populista.”

No decurso do debate, o Prof. Dr. Pedro Arroja aceitou a “provocação” que o nosso companheiro Moreira da Silva lhe dirigiu para afirmar um conjunto de medidas que tomaria se governasse ele próprio o nosso país. Entende que “os Portugueses, como povo do Sul da Europa, são especialistas da contra-reforma. Os reformistas são os protestantes do Norte da Europa. Os Portugueses só fizeram reformas na década de 90, por imposição da união Europeia, e aí só em áreas económicas. A reforma mais importante seria a da produtividade, mas tem a ver com factores culturais e demora gerações. Daí a nossa perda de competitividade e o aumento do desemprego”.

Referiu ainda que deveriam ser concretizadas reformas que ajudassem a reforçar a responsabilidade das decisões e a autoridade e prestígio das instituições. Deu o exemplo, elevar a idade a partir da qual seria permitido votar (35 anos) e também a idade a partir da qual se poderiam desempenhar certos cargos públicos, como deputado ou juiz (40 anos).

Entende que “a falta de autoridade do Estado é o principal obstáculo à realização das reformas necessárias”. Assim, assume que lideraria Portugal muito à semelhança do que fez Oliveira Salazar. “É preciso pôr as instituições na ordem, em silêncio, mas com o apoio da população”.

Os Portugueses não gostam de ser humilhados em público, tal como tem feito este governo socialista em relação às várias classes profissionais: os médicos, os juízes, os professores, os funcionários públicos…” Admite que “sairia do Euro (instaurava uma nova moeda nacional a que chamaria Bento (em honra ao Papa Bento XVI) como forma de incentivar a faceta exportadora da economia portuguesa. Proporcionava a reocupação do interior desertificado do país e fazia uma grande reforma da Justiça, restaurando a segurança e a justiça em Portugal.



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