domingo, 5 de outubro de 2008

O Futuro do Aeroporto Sá Carneiro – Uma questão essencial nas autárquicas de 2009

As próximas eleições autárquicas ocorreram daqui a um ano. Da parte do PS, a provável candidata será a Prof. Dra. Elisa Ferreira, actual eurodeputada e antiga ministra dos governos de António Guterres. Como no PS nada é pacífico, compreende-se que até ao momento do anúncio formal da sua candidatura, a Dra. Elisa Ferreira seja parca nas suas intervenções.

No entanto, sempre que aparece, as suas intervenções já são claramente de campanha eleitoral, pelo que podemos assumir que será ela a candidata. E o que tem dito a Dra. Elisa Ferreira? Tomando como exemplo a entrevista ao jornal Público do passado dia 24 de Março, uma das ideias principais é que o Porto “tem vindo a perder dinâmica” e que “está particularmente debilitado”. Sendo inegável a perca de toda a região Norte, em relação a todas as outras regiões do País, convém recordar que não é um fenómeno que se confina aos últimos anos. É algo que tem razões estruturais, e que podemos encontrar o seu ponto de partida nos finais da década de oitenta e princípios da de noventa.

Mas nesta fase, mais importante é analisar soluções para o futuro. Nos últimos tempos, uma das soluções mais faladas prende-se com o futuro modelo de gestão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro (ASC). É muito difícil encontrar algum tema que tenha gerado tanto consenso, entre várias entidades (públicas e privadas) e os cidadãos. O que está em causa é se a gestão do ASC deve ser autonomizada dos restantes aeroportos nacionais, permitindo que o enorme investimento efectuado nessa infra-estrutura (mais de 400 milhões de euros) possa ser efectivamente colocado ao serviço do desenvolvimento da região Norte. É notório que o actual governo discorda em absoluto da ideia de gestão autónoma do ASC. No entanto, como não o assume abertamente, o governo tem criado um conjunto de manobras dilatórias. A primeira, foi repto público lançado pelo Primeiro-Ministro, de que se houvesse alguma proposta credível, o Governo analisaria e tomaria uma decisão. O Primeiro-Ministro, convencido de que tudo não passaria de discurso sem conteúdo (ou seja, bluff) decidiu “elevar a aposta”. O problema é que apareceu uma proposta, liderada pelo Sonae, em parceria com a Soares da Costa e outros parceiros internacionais. Essa proposta, de uma entidade credível, deveria ser levada muito sério pelo Governo. Qual a resposta? A publicação de um “estudo”, realizado pela ANA, em que se pretende demonstrar que a gestão autónoma do ASC implicaria graves prejuízos para os utilizadores daquela infra-estrutura e seria economicamente inviável. Do que se conhece desse “estudo técnico”, via comunicação social, é que alguns dos principais argumentos são meras caricaturas. A principal é impor uma taxa de rentabilidade de 10%, para que o Estado pondere a sua privatização. Nenhum grande projecto nacional (aeroporto de Lisboa, TGV, auto-estradas) resistiria a esse teste. Mas a publicação de notícias periódicas sobre este “estudo”, revelam bem que o Governo não está de boa-fé em todo este processo.

Perante este quadro, qual a opinião da Dra. Elisa Ferreira? O que pensa a Dra. Elisa Ferreira, sobre a questão do ASC? Concorda com a Junta Metropolitana do Porto (JMP), a Associação Empresarial do Porto (AEP), a Associação Comercial do Porto (ACP), e muitas outras entidades, que querem uma gestão autónoma do ASC e ao serviço dos interesses da região Norte? Ou perfilha da opinião do Governo, que pretende manter a gestão de todos os aeroportos dentro da mesma empresa (ANA)? Não nos podemos esquecer que o novo aeroporto de Lisboa irá representar 90% da capacidade de investimento dessa empresa, pelo há o enorme risco e probabilidade de a gestão do ASC ser subjugada à rentabilização desse novo aeroporto. Sendo a Prof. Dra. Elisa Ferreira tão pródiga e cheia de convicções nos diagnósticos, deveria também o ser na defesa das políticas concretas do que considera melhor para o Porto.

Uma nota final, para os mais incautos. No próximo dia 8 de Outubro, a JMP e as associações empresarias irão realizar uma sessão pública sobre o ASC no Europarque. O PS, demonstrando que coloca os interesses partidários acima dos interesses regionais, anda com a ideia de ter no mesmo dia uma iniciativa, para promover um “amplo debate” sobre o mesmo tema. Ou seja, pretende dividir, para roubar impacto a esta iniciática, que considera hostil ao Governo. Uma sugestão: não seria mais útil para o Porto, e para toda a região Norte, unir esforços? E, já agora, a Prof. Elisa Ferreira irá estar presente no Europarque no próximo dia 8?


Luís Moreira Fernandes

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