Uma personalidade a que ninguém fica indiferente. Concorde-se ou não com ele, todos lhe reconhecerão inevitavelmente, assim se concentrem a escutá-lo durante breves minutos, a autoridade própria de uma craveira intelectual superior.
Uma breve análise do seu percurso pessoal e profissional, indicia desde logo estarmos perante um “peso-pesado”, seja qual for a óptica em que se observe. Foi um “peso-pesado” na política, voltou a sê-lo na alta finança e está em vias de o ser na cultura. Isto denota desde logo um espírito multifacetado e que, por via dos seus elevados conhecimentos e capacidade, deixa marcas por onde quer que passe. Do seu discurso destaca-se a solidez dos valores, ancorados por certo no seu carácter religioso, muito embora tenha confessado alguma descrença numa recente entrevista, motivada porventura por contingências da sua vida pessoal. Monárquico assumido, preside à Causa Real, sendo das poucas vozes com um argumentário lúcido e consistente contra o pensamento jacobino dominante.
Angolano de nascimento, mas português de nacionalidade – e com uma veia claramente nacionalista, a fazer jus à sua opção monárquica – tem uma dupla licenciatura em Ciências Jurídico-Políticas (Universidade de Lisboa) e em Ciências Jurídicas (Universidade Livre de Lisboa), tendo encetado a sua vida profissional como académico naquelas duas Instituições.
A partir de 1991, integrou o 3º governo de Cavaco Silva no qual chegou a Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e a porta-voz do governo. Foi nesta qualidade que se tornou figura pública, quando o seu semblante grave e sisudo nos aparecia quotidianamente no écran, relatando de forma sempre concisa e sem redundâncias as deliberações do Conselho de Ministros. Questões do foro puramente político da governação ter-lhe-ão inevitavelmente passado pelas mãos, não só por força da pasta que assumia, a reportar directamente ao Primeiro-Ministro, mas também pela vertente algo “doutrinadora” do seu carácter.
Com o fim do cavaquismo inicia uma carreira na banca, integrando-se no BCP onde, em 12 anos, ascende da Assessoria Jurídica a Presidente do Conselho de Administração. Dele saiu em 2007 na sequência de um conturbadíssimo processo de luta pelo poder, que lhe deixou marcas ainda hoje visíveis nalguma amargura que não consegue esconder. Legou-lhe porém uma marca, melhor dizendo, a marca Millennium, bem visível por todos e por cujo projecto, implementado em 2003, ele foi o principal responsável. Isto releva não tanto pela marca em si, mas pela osmose que veio potenciar, no âmbito do que se designou a “refundação” do Banco, na sequência de um processo de fusão que abarcou 4 grandes Instituições, o BCP, o BPA, o BPSM e o Banco Mello. É sabido que uma das questões mais delicadas em empresas transnacionais ou naquelas em que ocorram fusões, prende-se com a gestão intercultural, com a articulação de diferentes culturas que podem até ser antagónicas. Há casos de rotundos insucessos, o mais recente e significativo dos quais terá sido o da Daimler / Chrysler, cuja fusão redundou em posterior cisão, ocorrida há cerca de 3 anos. O Millenniumbcp constitui também nesta vertente um case-study, cujo mérito, em grande medida, deve ser creditado a Paulo Teixeira Pinto.
Da Banca passou para o mercado da edição, tendo em 2008 adquirido as editoras Ática e Guimarães Editores, sendo esta última uma referência no mercado, não só pelas edições e traduções de escritores estrangeiros de relevo, mas sobretudo por se tratar da editora de Agustina Bessa-Luís. É nesta altura que se revelaram 2 facetas suas pouco conhecidas, a de poeta e de pintor, o que nos revela alguém com um espírito sensível e observador, explicando porventura um temperamento reservado que transparece para terceiros, pelo seu ar sempre sério e algo taciturno.
O verbo e o número são as duas ferramentas do pensamento – uma asserção sua aquando do lançamento da sua primeira obra poética em Outubro de 2008, intitulada “LXXXI Poema Teorema”. A utilização hábil e articulada das ditas ferramentas sobressai em quase todas as suas intervenções e é nítida até no título do seu livro. O seu discurso prende qualquer um pela superior erudição, a que consegue aliar uma extrema clareza, sempre com um encadeamento fluido de vocábulos e números. Este encadear do verbo e do número também o transportou para a pintura e é tão enigmático na tela como clarificador no discurso.
Claro que ninguém é perfeito. Tem o seu “calcanhar de Aquiles” – na perspectiva da maioria dos membros do Porto Laranja – na forma como encara a Regionalização: total e assumidamente contra, tendo encabeçado um dos grupos a favor do “não” que se constituíram aquando do referendo. Paradoxalmente, é um “Dragão” dos 4 costados, o que é contraditório com uma postura centralista e poderá indiciar, quem sabe, uma evolução no “bom” sentido...
Não pretendendo entrar no “futebolês”, diria que ele encarna na perfeição a forma de ser e de estar de um verdadeiro Dragão: a agressividade na competição com os melhores e a ambição de ser melhor que os melhores. E, quiçá no seu íntimo e tonalidades à parte, não desdenharia associar ao FCP a mensagem publicitária da Guimarães Editores
- esse azul traduz um vigor concordante com o melhor das aptidões humanasNo passado dia 5, Paulo Teixeira Pinto foi o orador convidado do nosso último jantar-debate, tendo-nos deliciado com uma autêntica lição de ciência política, que em breve detalharemos nestas páginas. Em nome do Porto Laranja, renovo os melhores agradecimentos por ter aceite partilhar connosco uma ínfima parte do seu imenso saber.
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