Considerando dados de 2009, um condutor de autocarro de Nova Deli tinha um salário de 18 rupias por hora. O seu congénere em Estocolmo recebia cerca de 130 coroas, o que equivalia, a aproximadamente a 870 rupias. Por outras palavras, o condutor sueco tem uma remuneração quase 50 vezes superior à do seu congénere indiano. A explicação tradicional das diferenças salariais entre as pessoas remete para diferenças de produtividade. Assim, se um condutor de autocarro sueco recebe 50 vezes mais do que um condutor indiano, a diferença tem de se dever ao facto do primeiro ser 50 vezes mais produtivo como condutor do que o segundo. No entanto, é possível que uma pessoa conduza 50 vezes melhor do que outra? Mesmo se, de alguma forma, descobríssemos um processo para medir quantitativamente a qualidade da condução, será tal diferença de produtividade possível? Temos de concordar que é muito difícil de conceber como pode um condutor regular de autocarros conduzir 50 vezes melhor do que outro. Aliás, será até provável que o condutor indiano tenha mais destreza na condução do que o condutor sueco. Este pode, evidentemente, ser um bom condutor pelos padrões sueco, mas alguma vez na vida terá tido necessidade de se desviar de uma vaca? O condutor sueco apenas tem, quase sempre, de saber conduzir em linha recta, enquanto o condutor indiano tem de conduzir quase constantemente entre carroças e bicicletas, com caixas amontoadas de três metros de altura.
Poderia argumentar-se, por outro lado, que o condutor sueco recebe um salário superior porque possui mais «capital humano», ou seja, competências e conhecimentos acumulado por meio de educação e formação. Contudo, pouco do «capital humano» do condutor sueco adquirido no liceu será relevante para conduzir um autocarro. Ele não necessita de conhecimentos sobre cromossomas humanos ou sobre a guerra de 1809 (Suécia contra a Rússia) para conduzir bem o seu autocarro. Assim, o «capital humano» adicional do condutor sueco não é razão pela qual ele recebe um salário 50 vezes superior ao condutor indiano.
O principal motivo por que o condutor sueco tem uma remuneração 50 vezes superior à do condutor indiano é o proteccionismo – os trabalhadores suecos estão protegidos da concorrência dos trabalhadores da Índia e de outros países pobres, graças à restrições à imigração. Teoricamente, não existe nada que impeça que todos os condutores de autocarro suecos sejam substituídos por indianos ou chineses. A maior parte destes estrangeiros ficaria satisfeita com uma fracção do salário que os trabalhadores suecos recebem, ao mesmo tempo que todos eles seriam capazes de desempenhar a função igualmente bem, ou até melhor. E não apenas os trabalhadores com baixas qualificações como empregados de limpeza ou varredores de rua. Existem muitos engenheiros, bancários e programadores informáticos disponíveis em Xangai, Nairobi ou Quioto capazes de substituir os seus congéneres em Estocolmo, Linköping e Malmö. Porem, estes trabalhadores não podem entrar no mercado de trabalho sueco devido às restrições à imigração. Consequentemente, os trabalhadores suecos conseguem ter salários 50 vezes superiores aos dos trabalhadores indianos, apesar de muitos deles não apresentarem produtividadess mais elevadas.
A questão seguinte que se pode colocar é como é Suécia consegue pagar 50 vezes mais aos seus condutores de autocarro, comparativamente à Índia, quando o diferencial de produtividade não o justifica. Não sendo uma resposta fácil, pode-se sempre dizer que o condutor de autocarro sueco partilha o seu mercado de trabalho com outras pessoas que são muito mais do que 50 vezes mais produtivas que os seus congéneres indianos. Ou seja, alguns suecos – gestores de topo, cientistas e engenheiros em empresas líderes a nível mundial – são centenas de vezes mais produtivos do que os seus equivalentes indianos, pelo que a produtividade nacional média da Suécia acaba por ser cerca de 50 vezes mais elevada do que a da Índia.
Uma nota final para afirmar que com este exemplo não se pretende advogar que o problema está na lei da imigração e que, por conseguintes, os países europeus deveriam abrir completamente as suas fronteiras. A imigração é uma problemática que envolve toda uma séria de outras questões, que não foram consideradas. Apenas se pretende chamar atenção o seguinte facto: o que um indivíduo recebe a título de salário não é totalmente reflexo do seu valor. Uma das forte condicionantes é o país onde se nasceu (ou seja, sorte), bem como a respectiva política de imigração desse país.
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